Ecce Homo - Cap. 5: A Origem da Tragédia Pág. 53 / 115

linguagem metafísica; a própria história é considerada como desenvolvimento dessa ideia; na tragédia, o contraste eleva-se a unidade sob tal óptica, coisas que nunca se tinham visto face a face, surgem, súbito, de frente, iluminadas e compreendidas umas por meio das outras... as óperas por exemplo, e a Revolução... As duas inovações decisivas do livro são, em primeiro lugar, a compreensão do fenómeno dionisíaco entre os gregos, de quem o livro da, pela primeira vez a psicologia, vendo nele uma das raízes de toda a arte grega; em segundo lugar, a interpretação do socratismo, sendo Sócrates considerado instrumento da degenerescência da Grécia e reconhecida pela primeira vez como decadente típico. «Racionalidade contra instinto». A «racionalidade» a todo o preço, considerada como força perigosa que mina a vida! E em todo o livro um profundo e hostil silêncio sobre o cristianismo. Este não é apolíneo nem dionisíaco: nega todos os valores estéticos, os únicos valores que a Origem da Tragédia reconhece; é niilista num profundo sentido, enquanto no símbolo dionisíaco se alcança o limite extremo da afirmação. Alude-se uma vez só aos sacerdotes cristãos: «maligna espécie de anões», «seres subterrâneos»...

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Este começo é maravilhoso para além de todo o limite. Descobria, devido à minha íntima experiência, o símbolo e contraste por excelência de toda a história, sendo desta maneira o primeiro a compreender o maravilhoso fenómeno do dionisíaco. E também pelo facto de ter reconhecido em Sócrates um decadente, dera prova completa e inequívoca de que a segurança de um golpe de vista psicológico não sofria dano algum por parte de qualquer idiossincrasia moral: considerar a própria moral como sintoma de decadência é ideia nova, singularidade de primeira ordem na história do conhecimento.





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