O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 100 / 102

E mais ainda: que aquele horror insurgente era mais íntimo do que uma esposa, mais próximo do que o olhar; estava encarcerado na sua carne, onde ele o ouvia murmurar e o sentia a debater-se para despontar; e a cada hora de fraqueza, e na confidência do sono, prevalecia contra ele, e extraía-lhe a vida. O ódio de Hyde por Jekyll era de uma qualidade diferente. O seu terror pelas galés levavam-no continuamente a cometer suicídio temporário, e regressar à sua posição subordinada como parte e não como pessoa; mas abominava a necessidade, detestava o desânimo em que Jekyll havia caído, e ressentia-se do desagrado com que era considerado. Daí, as partidas simiescas que me pregava, rabiscando blasfémias com o meu próprio punho nas páginas dos meus livros, queimando as cartas e destruindo o retrato do meu pai; e, na verdade, se não fosse o seu medo da morte, há muito que já se teria arruinado, só para me envolver na ruína. Mas o seu amor pela vida é admirável; e digo mais: eu, que fico doente e gelado só de pensar nele, quando recordo a abjecção e a paixão deste vínculo, e quando sei como teme o meu poder de o eliminar pelo suicídio, sinto no coração uma grande compaixão por ele.

É inútil - e o tempo foge-me horrivelmente - prolongar esta descrição; basta dizer que ninguém, alguma vez, sofreu tais tormentos; e no entanto, mesmo a esses, o hábito trouxe - não, não o alívio - uma certa insensibilidade da alma, uma certa aquiescência do desespero; e o meu castigo poderia ter-se prolongado durante anos, se não fosse a última calamidade que agora aconteceu, e que finalmente me separou do meu próprio rosto e da natureza.





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