O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 16 / 102

«Se quer brincar às escondidas», pensou, «hei-de ser eu a apanhá-lo».

Por fim, a sua paciência foi recompensada. Foi numa noite fria e húmida; as ruas estavam limpas e brilhantes como o piso de um salão de baile, e os candeeiros desenhavam à sua volta círculos de luz e sombra. Por volta das dez horas, quando as lojas estavam fechadas, a ruela ficava mergulhada na solidão e no silêncio, apesar de envolta pelos distantes rumores da cidade de Londres. O eco do mais leve som chegava longe; os ruídos que vinham do interior das casas eram claramente audíveis em ambos os passeios da rua; e a aproximação de qualquer transeunte era denunciada pelo som dos seus passos, muito antes do seu aparecimento. O Sr. Utterson encontrava-se no seu posto havia algum tempo quando foi alertado pelo som próximo de um estranho e leve caminhar. No decurso das suas rondas nocturnas, habituara-se a distinguir apuradamente o efeito dos passos de uma única pessoa a destacar-se, mesmo a grandes distâncias, do denso rumor da cidade. No entanto, nunca antes sentira a sua atenção tão aguda e decisivamente desperta; e foi com um forte pressentimento de sucesso que se recolheu, expectante, na entrada do pátio.

Os passos aproximavam-se rapidamente e, ao dobrarem a esquina, soaram ainda mais alto. Espreitando da entrada, o advogado pôde logo ver que espécie de homem teria de enfrentar. Era baixo e vestia com simplicidade; e, mesmo de longe, o seu olhar virou-se ostensivamente na direcção do observador. Porém, seguiu o seu caminho até à porta, atravessando a rua para atalhar caminho; e, ao aproximar-se, tirou uma chave do bolso como quem se prepara para abrir a porta de casa.





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