Os artífices chegaram enquanto ainda estávamos a conversar; e em conjunto dirigimo-nos para o anfiteatro operatório do velho Dr. Denman, a partir do qual (como deves saber) se passa muito facilmente para o gabinete privado de Jekyll. A porta era muito forte, e a fechadura excelente; o carpinteiro confessou que iria ter grandes dificuldades e causar muitos estragos se tivesse de fazer uso da força; e o serralheiro estava à beira do desespero. Porém, este último era um indivíduo habilidoso, e, após duas horas de trabalho, a porta cedeu. O armário assinalado com a letra E não estava trancado; então, retirei a gaveta, enchi-a com palha, embrulhei-a num lençol e regressei com ela a Cavendish Square.
Aqui chegado, procedi ao exame do seu conteúdo. Os pós tinham sido bem preparados, mas não com o esmero de um bom farmacêutico; era óbvio que tinha sido o próprio Jekyll quem os preparara. Quando abri um dos embrulhos, encontrei aquilo que me parecia um simples sal cristalino de uma cor esbranquiçada. A ampola, para a qual passei a focar a minha atenção, devia estar cheia até metade de um licor com cor de sangue; o qual era extremamente agressivo ao olfacto e me dava a ideia de conter fósforo e um qualquer gás volátil. Quanto aos outros ingredientes, não consegui identificá-los. O caderno era uma sebenta vulgar e pouco mais continha do que uma série de datas. Estas abrangiam um período de muitos anos, mas verifiquei que as entradas cessavam abruptamente há quase um ano.