Sendo estranha de descrever, esta ridícula indumentária estava longe de me provocar o riso. Pelo contrário, como havia algo de anormal e ilegítimo na própria essência da criatura que me encarava naquele momento - algo arrebatador, surpreendente e revoltante -, esta nova disparidade apenas parecia adequar-se a ela e reforçá-la; de tal forma que, ao meu interesse pela natureza e pelo carácter do homem, juntava-se uma curiosidade pela sua origem, a sua vida, a fortuna e o estatuto que tinha no mundo.
Estas observações, apesar de terem levado tanto tempo a ser relatadas, foram obra de apenas alguns segundos. Na verdade, o meu visitante estava em brasa e possuído por uma sombria excitação.
- Tem aquilo? - gritou. - Tem aquilo?
E tão viva era a sua impaciência que chegou a agarrar-me pelo braço e tentou sacudir-me. Repeli-o, consciente de que o seu toque me fazia gelar o sangue nas veias.
- Calma, senhor! - disse-lhe. - Esquece-se de que ainda não tenho o prazer de o conhecer. Sente-se, por favor.
Dando o exemplo, sentei-me na minha cadeira habitual, imitando perfeitamente o modo como costumava atender os pacientes, tanto quanto mo permitiam a hora tardia, a natureza das minhas preocupações e o horror que sentia pelo visitante.
- Peço desculpa, Dr. Lanyon - respondeu com bastante cortesia. - O que diz tem todo o fundamento; e a minha impaciência ultrapassou os limites da delicadeza.