O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 83 / 102

A droga não tinha uma acção discriminatória: não era diabólica nem divina; apenas abalava as portas da prisão da minha disposição; e, à semelhança dos cativos de Filipos (Act 16:26), aquilo que se mantinha cativo libertou-se. Nessa altura, a minha virtude dormitava; a minha maldade, desperta pela ambição, estava alerta e era lesta a aproveitar a ocasião; e o que emergia era Edward Hyde. Por conseguinte, embora eu tivesse agora duas personalidades, bem como duas aparências, uma delas era inteiramente maligna, enquanto a outra continuava a ser o velho Henry Jekyll, essa mistura incongruente por cuja renovação e aperfeiçoamento eu já aprendera a desesperar. Assim, a tendência era sempre para o pior...

Mesmo nessa época, ainda não tinha vencido a minha aversão à secura de uma vida de estudo. Por vezes, ainda me sentia disposto a divertir-me; e, como os meus prazeres eram (no mínimo) indignos - e eu, não só era bem conhecido e credor de elevada consideração, como também ia avançando para uma idade vetusta -, esta incoerência da minha vida tornava-se, de dia para dia, mais insuportável. E foi sob este aspecto que o meu novo poder me tentou, até fazer de mim seu escravo. Só tinha de beber a taça, para descartar imediatamente o corpo do distinto professor, e assumir o de Edward Hyde, como se fosse um manto espesso. Sorria perante tal ideia, que, na altura, me parecia divertida; fazia os meus preparativos com todo o cuidado. Arrendei e mobilei essa casa no bairro de Soho, até onde Hyde foi perseguido pela polícia; e contratei como governanta uma criatura que eu sabia muito bem que era de poucas palavras e muitos escrúpulos.





Os capítulos deste livro