Mesmo nessa época, ainda não tinha vencido a minha aversão à secura de uma vida de estudo. Por vezes, ainda me sentia disposto a divertir-me; e, como os meus prazeres eram (no mínimo) indignos - e eu, não só era bem conhecido e credor de elevada consideração, como também ia avançando para uma idade vetusta -, esta incoerência da minha vida tornava-se, de dia para dia, mais insuportável. E foi sob este aspecto que o meu novo poder me tentou, até fazer de mim seu escravo. Só tinha de beber a taça, para descartar imediatamente o corpo do distinto professor, e assumir o de Edward Hyde, como se fosse um manto espesso. Sorria perante tal ideia, que, na altura, me parecia divertida; fazia os meus preparativos com todo o cuidado. Arrendei e mobilei essa casa no bairro de Soho, até onde Hyde foi perseguido pela polícia; e contratei como governanta uma criatura que eu sabia muito bem que era de poucas palavras e muitos escrúpulos.