Já houve homens que contrataram malfeitores para executarem os seus crimes, salvaguardando as suas próprias pessoas e reputações. Fui o primeiro a fazê-lo para seu próprio prazer. Fui o primeiro a poder, deste modo, surgir aos olhos do público com uma aura de genial respeitabilidade e, num instante, como um colegial, despojar-se destas prestações e mergulhar bem fundo no mar da liberdade. Para mim, no meu manto impenetrável, a segurança era total. Pensa bem: eu nem sequer existia! Bastava-me entrar no meu laboratório, dispor de um ou dois segundos para misturar e ingerir o preparado que tinha sempre a postos; e, o que quer que Edward Hyde tivesse feito, desaparecia como uma mancha de ar bafejado num espelho; e lá no seu pois o, no sossego do lar, avivando a lamparina do seu estúdio, quem podia dar-se ao luxo de se rir das suspeitas era Henry Jekyll.
Os prazeres que avidamente procurava, sob o meu disfarce, eram, como já disse, indignos; dificilmente seria capaz de usar um termo mais duro.