O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 84 / 102

Por outro lado, anunciei aos meus criados que um certo Sr. Hyde (de quem dei uma descrição) deveria ter total liberdade e poder para dispor da minha casa na praceta; e, para prevenir contrariedades, eu próprio passei a visitá-la, na minha segunda personalidade, tornando-me familiar nela. Em seguida, redigi aquele' testamento a que tanto objectaste; assim, se algo me acontecesse na pessoa do Dr. Jekyll, poderia assumir a de Edward Hyde sem prejuízo pecuniário. E, assim fortalecido, como supunha, em todos os aspectos, comecei a tirar partido das estranhas imunidades da minha posição.

Já houve homens que contrataram malfeitores para executarem os seus crimes, salvaguardando as suas próprias pessoas e reputações. Fui o primeiro a fazê-lo para seu próprio prazer. Fui o primeiro a poder, deste modo, surgir aos olhos do público com uma aura de genial respeitabilidade e, num instante, como um colegial, despojar-se destas prestações e mergulhar bem fundo no mar da liberdade. Para mim, no meu manto impenetrável, a segurança era total. Pensa bem: eu nem sequer existia! Bastava-me entrar no meu laboratório, dispor de um ou dois segundos para misturar e ingerir o preparado que tinha sempre a postos; e, o que quer que Edward Hyde tivesse feito, desaparecia como uma mancha de ar bafejado num espelho; e lá no seu pois o, no sossego do lar, avivando a lamparina do seu estúdio, quem podia dar-se ao luxo de se rir das suspeitas era Henry Jekyll.

Os prazeres que avidamente procurava, sob o meu disfarce, eram, como já disse, indignos; dificilmente seria capaz de usar um termo mais duro.





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