O médico e a família da criança juntaram-se a ele e houve momentos em que receei pela minha vida. Por fim, para apaziguar o seu justíssimo ressentimento, Edward Hyde teve de os conduzir até à porta e pagar-lhes com um cheque emitido em nome de Henry Jekyll. Um problema que facilmente afastei para as situações futuras, abrindo uma conta num outro banco em nome do próprio Edward Hyde; depois, ao inclinar para trás a minha própria caligrafia, dotei o meu duplo de uma assinatura, pensando que estaria fora do alcance do destino.
Cerca de dois meses antes do assassínio de Sir Danvers, tinha saído para uma das minhas aventuras, regressado a casa a uma hora tardia e acordado no dia seguinte com uma sensação algo estranha. Foi em vão que olhei à minha volta; em vão que vi o mobiliário distinto e as altas proporções do meu quarto na praceta; em vão que reconheci o padrão da colcha da cama e o desenho da sua estrutura de mogno; alguma coisa continuava a insistir que eu não me encontrava naquele local, que não acordara onde parecia estar, mas antes no quartinho de Soho onde estava habituado a dormir sob a forma de Edward Hyde. Sorri para mim próprio e, no meu estado psicológico, comecei indolentemente a sondar os elementos desta ilusão, chegando mesmo, de quando em quando, a recair num confortável sono matinal. Ainda estava desta forma ocupado quando, num dos momentos de maior vigília, o meu olhar se fixou numa das mãos. Ora a mão de Henry Jekyll (como tantas vezes assinalaste) era, tanto na forma como no tamanho, a de um profissional: grande, firme, branca e delicada.