O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 85 / 102

Mas, nas mãos de Edward Hyde, depressa começaram a tornar-se monstruosos. Quando regressava destas excursões, mergulhava frequentemente numa espécie de perplexidade pela minha vicária depravação. Esta alma gémea que invocava do fundo do meu ser, e que enviava sozinho para obter o seu próprio prazer, era uma criatura intrinsecamente maligna e infame; todos os seus actos e pensamentos eram egocêntricos; bebendo o prazer com uma avidez bestial, passando de um grau de tortura para outro; implacável como um homem de pedra. Henry Jekyll ficava, por vezes, horrorizado com os actos de Edward Hyde; mas a situação estava à margem das leis comuns, e negligenciava insidiosamente a voz da consciência. No fundo era Hyde, e apenas Hyde, o culpado. Jekyll não estava pior; despertava de novo para as suas boas qualidades, aparentemente incólume; até se apressava, sempre que possível, a desfazer o mal praticado por Hyde. E assim adormecia a consciência.

Sobre os pormenores da infâmia em que estava deste modo conluiado (pois, mesmo agora, dificilmente posso admitir que a cometi), não faço tenções de me debruçar; apenas pretendo realçar os avisos e os passos sucessivos com que o meu castigo se aproximava. Deparei-me com um acidente que, como não teve consequências, não farei mais do que mencioná-lo. Um acto de crueldade perpetrado sobre uma criança despertou contra mim a fúria de um transeunte, que reconheci há dias na pessoa do teu companheiro de passeio.





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