O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 91 / 102

Não creio que um bêbedo, quando se questiona sobre o seu vício, fique, uma vez em quinhentas, impressionado com os perigos que corre com a sua brutal insensibilidade física; também eu, por muito que tivesse considerado a minha situação, não dera importância suficiente à completa insensibilidade moral e insensata predisposição para o mal, que eram as características dominantes de Edward Hyde. No entanto, foi por elas que fui punido. O meu demónio já estava enjaulado há muito tempo, e saiu rugindo. Assim que tomei a bebida, tive consciência de uma propensão mais desenfreada e furiosa para o mal. Deve ter sido isto, suponho, que desencadeou na minha alma aquela tempestade de impaciência com que escutei as palavras cordiais da minha vítima infeliz; pelo menos, declaro perante Deus que nenhum homem moralmente são podia ter sido culpado daquele crime por uma, provocação tão insignificante; e que o ataquei com um espírito não mais razoável do que aquele com que uma criança doente destrói os seus brinquedos. Mas tinha-me despojado voluntariamente de todos esses instintos moderados, por meio dos quais mesmo o pior de nós continua a avançar com alguma firmeza por entre as tentações; e no meu caso, ser tentado, ainda que ligeiramente, significava cair.

Instantaneamente, o espírito do inferno despertou em mim e enfureceu-se. Transportado pelo delírio, espanquei aquele corpo indefeso, deleitando-me a cada golpe desferido; e somente quando o cansaço começou a sobrepor-se, já no auge do meu desvario, é que fui atingido no coração por um súbito calafrio de terror.





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