- Mas eu pensei que você dizia...
- Eu disse que ele é superior a mim em observação e dedução. Se a arte de detective começasse e acabasse num raciocínio feito numa cadeira, o meu irmão seria o maior agente criminal que já existiu. Mas não tem ambição nem energia. Não se afasta da sua rotina nem sequer para verificar as suas próprias soluções e prefere considerar-se errado a entrar na luta para provar que está certo. Tenho-lhe constantemente apresentado problemas e recebido dele uma explicação que depois se verifica ser a única certa; todavia é incapaz de lograr os pontos práticos que devem ser apreendidos antes de um caso ser levado perante um juiz ou um júri.
- Então não é essa a sua profissão?
- De forma nenhuma. O que para mim é forma de vida, para ele é mera mania de diletante. Possui uma extraordinária faculdade para os números e faz a verificação dos livros de alguns departamentos do governo. Mycroft habita em Pall Mall, dobra a esquina em Whitehall todas as manhãs e, no regresso, todas as tardes. Do princípio ao fim do ano, não faz qualquer outro exercício e não é visto em parte alguma, excepto no Clube Diógenes, que fica mesmo defronte da sua casa.
- Sim, realmente não me lembro do nome.
- É natural. Há muitos homens em Londres, uns por acanhamento, outros por misantropia, que não querem o convívio dos seus semelhantes. No entanto, não têm aversão a uma poltrona confortável e às últimas edições dos jornais. Para conveniência destes homens, foi criado o Clube Diógenes, que abriga agora os homens mais insociáveis e menos gregários da cidade. Não se permite que nenhum membro dê a menor atenção a qualquer outro. São proibidas as conversas, seja em que caso for, salvo na Sala dos Estranhos.