A conversa, lembro-me perfeitamente, versou sobre o sistema de medidas de Bertillon e ele manifestou a sua admiração pelo sábio francês.
Encontrámos o nosso cliente ainda sob os devotados cuidados da sua enfermeira, mas parecendo bastante melhor do que no dia anterior. Levantou-se mesmo do sofá e cumprimentou-nos quando entrámos.
- Novidades? - perguntou com ansiedade.
- O meu relatório, como pensava, é negativo - disse Holmes. - Falei com Forbes e com o seu tio e pus em andamento duas séries de inquéritos que talvez me possam levar a algo de positivo.
- Não perdeu o ânimo, então?
- De modo nenhum.
- Deus lhe pague por isso! - exclamou Miss Harrison. - Se conservarmos a coragem e a paciência, a verdade surgirá.
- Entretanto, temos mais para contar ao senhor do que o senhor a nós - disse Phelps, voltando a sentar-se no divã.
- Esperava isso mesmo.
- É certo. Tivemos uma aventura durante a noite que podia ter sido muito grave.
A sua expressão ia-se tornando séria, à medida que falava, e a máscara de qualquer coisa parecida com o medo desenhava-se-lhe no rosto e, de modo flagrante, nos olhos.
- Sabe - disse -, começo a acreditar que sou o centro inconsciente de uma monstruosa conspiração política e que não só a minha honra está em perigo como também a minha vida.
- Sim?! - exclamou Holmes.
- Isto parece-me incrível porque, até onde me é dado saber, não tenho inimigos no mundo. Todavia, a experiência da noite passada...
- Por favor, conte-ma.
- Bem, primeiro é preciso que saiba que a noite passada foi a primeira em que dormi sem enfermeira no quarto. Estava tão bem que resolvi dispensá-la. No entanto, fiquei com uma luz acesa. Aí por volta das duas horas da madrugada, caí num sono leve, mas, de repente, acordei com um pequeno ruído, semelhante ao de um rato quando está a roer uma tábua.