Que relação poderá existir entre a minha esposa e aquela criatura? E a mulher rude e grosseira que me atendeu ni dia anterior, que ligação teria com a minha mulher? Era um estranho enigma, e eu sabia que o meu espírito jamais teria sossego enquanto não o resolvesse.
»Durante dois dias após o sucedido, permaneci em casa, e a minha esposa aparentava cumprir lealmente o nosso compromisso pois, tanto quanto sei, nunca saiu novamente às escondidas. No entanto, ao terceiro dia, tive a ampla evidência de que a sua promessa solene não fora suficiente para a afastar dessa influência secreta.
» Eu tinha ido à cidade naquele dia, mas voltei às 2:40 e não às 3:36, que é o horário do meu comboio habitual. Ao entrar em casa a empregada correu assustada para o salão. “Onde está a sua senhora?” – perguntei. “Penso que saiu para dar um passeio” – respondeu ela, atrapalhada.
»A minha mente encheu-se de imediato com a suspeita. Corri para o piso superior, certificando-me que ela não estaria em casa. Olhei para fora a partir de uma das janelas de cima e vi a empregada, com quem tinha acabado de falar, a correr pelo campo em direcção à casa vizinha. Claro que percebi de imediato o que se estava a passar. A minha esposa tinha ido lá, deixando instruções à empregada para a avisar caso eu chegasse. Espumando de raiva, corri para lá, determinado a acabar com o assunto de uma vez por todas. Vi a minha mulher e a empregada a voltarem pelo caminho estreito mas não parei para falar com elas. Aquela casa guardava o segredo que mantinha uma sombra sobre a minha vida. Prometi a mim mesmo que, fosse o que fosse, deixaria de ser um segredo. Nem sequer bati quando lá cheguei, apenas girei a maçaneta e avancei para o corredor.