De súbito, Vansittart Smith teve a intuição de que a pele como que de pergaminho daquele rosto apresentava algo de desumano e de sobrenatural. A epiderme lisa, brilhante, que parecia sem poros, achava-se, porém, estriada em todos os sentidos por milhares de rugas; parecia que a natureza sentira prazer em traçar ali linhas indeléveis.
- Onde está a colecção de Mênfis? - perguntou o estudante em francês, com o ar embaraçado de alguém que faz uma pergunta unicamente para encetar uma conversa.
- Ali - respondeu o homem bruscamente, fazendo um ligeiro sinal com a cabeça para a outra extremidade da sala.
- O senhor é egípcio, não é verdade? - perguntou o inglês.
O homem levantou a cabeça e encarou o seu interlocutor; Os olhos estavam vítreos e pareciam cobertos por um nevoeiro espesso que lhe dava um aspecto perfeitamente estranho; à medida que Smith observava o empregado, julgou ler-lhe no olhar uma emoção profunda que depressa se alterou para horror e ódio acentuados.
- Não, senhor - respondeu -, sou francês.
O homem voltou para os seus cobres. O estudante, espantado, contemplou-o durante um momento, depois, encaminhando-se para um canto retirado atrás de uma porta, embrenhou-se novamente nas suas pesquisas de papiros; mas o seu espírito não conseguia fixar-se, assombrado como estava por aquela enigmática personagem com rosto de esfinge e pele apergaminhada.
«Então onde é que vi olhos assim?», disse para consigo Vansittart. «Acho-lhes uma expressão de sáurio, algo do réptil; até possuem a membrana nictitante das serpentes», pensou ao mesmo tempo que relembrava a sua zoologia.