Calculando a olho, estamos a menos de trezentas milhas do Funchal, de maneira que creio que o melhor que podemos fazer é seguir até lá, levar Mr. Vansittart ao hospital e esperar na baía que os senhores cheguem. Ouvi dizer que daqui a poucos dias sai um veleiro de Falmouth para o Funchal. Envio esta pelo bergantim Marian, de Falmouth, devendo abonar cinco libras ao capitão.
Respeitosamente, Jno. Hines
Aquela era uma mulher admirável, embora fosse apenas uma rapariga recém-saída do colégio, mas tão serena e forte como um homem. Não disse nada. Limitou-se a apertar com força os lábios e pôs o chapéu.
- Vai sair? - perguntei-lhe.
- Sim.
- Posso ser-lhe útil?
- Não. Vou falar com o médico.
- Com o médico?
- Sim, para me explicar como se deve tratar um doente com varíola.
Esteve ocupada com isso até a noite chegar e na manhã seguinte fizemo-nos ao mar no brigue Rose of Sharon com rumo à Madeira, soprando uma agradável brisa de dez nós.
Navegámos bem durante cinco dias e já não estávamos muito distantes da ilha; mas no sexto dia declarou-se uma calmaria e flutuámos num mar de azeite, balouçando-nos pesadamente, mas sem avançar meio metro.
Às dez daquela noite estávamos Emily Vansittart e eu encostados à amurada de estibordo, no lado do toldo. A Lua cheia projectava o seu clarão nas nossas costas, desenhando as nossas sombras, por cima da sombra do navio, sobre as águas brilhantes. Um caminho traçado pelo clarão da Lua arrancava desde essa sombra e ia-se desvanecendo até à linha solitária do horizonte, pestanejando e mexendo-se com a suave ondulação da agitação das ondas. Conversávamos, com as cabeças inclinadas sobre a calmaria, acerca das possibilidades de que se levantasse vento e do aspecto do céu, e de súbito ouviu-se um plop! na água, como o de um salmão que salta fora dela, e ali, em plena claridade, John Vansittart emergiu das águas e encarou- nos.