Você já ouviu falar do professor Moriarty?
- O criminoso científico, que se tornou tão célebre, entre os delinquentes, como...
- Respeite a minha: modéstia... - cortou Holmes, fingindo-se desinteressado de elogios.
- Eu ia dizer... como desconhecido de toda a gente.
- Muito obrigado por essa recriminação indirecta! - replicou Holmes, com um sorriso que não escondia a decepção. - Vejo que começa a cultivar um certo humorismo crítico, contra o qual tenho de passar a precaver-me.
»Ao classificar Moriarty como criminoso está a proferir um libelo, aos olhos da Lei, e é nisso que reside a maravilha e o absurdo do caso. O homem é o maior embusteiro de todos os tempos, organizador das mais diabólicas façanhas; o cérebro que tem dirigido o mundo do crime e que poderia alterar, para bem ou para mal, o destino das nações. Mas encontra-se tão fora de suspeitas, tão isento de uma crítica acusatória, e é tão hábil em dissimular os seus actos que você, Watson, só por ter dito o que disse seria bem capaz de ver-se levado, por ele, ao tribunal, para depois emergir deste com uma pesada sentença, como a de ter de pagar-lhe, durante um ano, uma pensão de, indemnização pela calúnia proferida contra a sua dignidade.
»Não se esqueça, meu amigo, de que esse sujeito é o celebrado autor de “A Dinâmica de Um Asteróide”, obra que ascende a uma tal altura da matemática pura que já foi afirmado não haver, entre os Jornalistas científicos, algum capaz de fazer-lhe uma crítica adequada. Não é pois pessoa que possamos desacreditar publicamente.
»Os jornais chamar-vos-iam, a si e a ele, “o médico difamador e o professor ilustre caluniado”. Conseguir esta posição, Watson, prova o génio desse indivíduo.