A noite começava a cair lentamente quando voltámos a encontrar-nos. Holmes apresentava-se de aspecto grave, eu, cheio de curiosidade e os polícias, visivelmente cépticos.
- Pois bem, meus senhores - começou então Holmes, em tom solene - peço-lhes agora, para me porem inteiramente à prova e, por si próprios, julgarem se as observações por mim feitas justificam as conclusões a que cheguei.
»A noite parece que vai ser muito fria e não sei quanto tempo durará a nossa expedição: acho melhor vocês vestirem os sobretudos mais pesados. É de capital importância que estejamos a postos antes da noite fechada; por isso convém pormo-nos a caminho imediatamente.
Atravessámos o extenso parque da mansão até atingirmos um ponto onde existia uma abertura na cerca que o rodeava. Enfiámo-nos por essa passagem e, ao lusco-fusco, acompanhámos Holmes até alcançarmos uma moita de arbustos que se estendia quase em frente da porta principal e da ponte levadiça. Esta última ainda não tinha sido levantada. Holmes agachou-se atrás dos arbustos e seguimos-lhe o exemplo.
- Que, vamos fazer agora? - perguntou Mac Donald, em tom um quanto ríspido.
- Enchamo-nos de paciência e procuremos fazer o menor ruído possível.
- Mas por que estamos aqui? Acho que podia tratar-nos com mais franqueza.
Holmes riu-se.
- Watson insiste em afirmar que eu sou o dramaturgo da vida real. Vibra dentro de mim certa inclinação artística e obstina-se em exigir uma representação bem encenada. A nossa profissão, caro Mac, seria verdadeiramente descolorida e sórdida se, às vezes, não dispuséssemos a cena com o intuito de exaltar os nossos resultados. A ilação rápida, a cilada subtil, a previsão inteligente de acontecimentos futuros, a prova triunfante de teorias arrojadas, não constituem o orgulho e a justificação da nossa vida de trabalho?
»Neste momento, você palpita com a emoção e a ansiedade do caçador.