Não tenho memória de que me haja alguma hora aplicado com esforço fosse ao que fosse, não se encontra na minha vida sinal de luta: sou o contrário de uma natureza obstinada. «Querer» uma coisa, «esforçar-se» por uma coisa, ter diante dos olhos um «fim», um «propósito», são estados que por própria experiência não conheço. Neste mesmo momento lanço o olhar para o meu porvir - como quem contempla um mar em calmaria: desejo algum nele se encrespa. Não quero de forma alguma que qualquer coisa, seja o que for, seja diferente do que é; eu próprio não quero ser diferente do que sou... E assim sempre vivi. Não tenho desejos. Sou alguém que aos quarenta e quatro anos pode dizer que nunca buscou «honras», «mulheres» ou «dinheiro»! Não digo que estas coisas me tenham sempre faltado. Assim, por exemplo, fui um dia professor da Universidade; nunca, de longe sequer, pensara sê-lo, pois tinha apenas vinte e quatro anos quando o fui. Assim, dois anos antes, fui um dia filósofo: no sentido de que o meu primeiro trabalho filológico, uma iniciação em todo, o sentido, foi solicitado por Ritschl, para ser publicado no seu Museu Renano, Ritschl, e digo-o com veneração, foi o único sábio de génio que até hoje encontrei. Possuía aquela agradável depravação... que distingue os que nascemos na Turíngia, e que torna até simpático um alemão: para chegar à verdade preferimos muita vez os caminhos ínvios.