Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 3: Porque sou tão sagaz

Página 36
Por vezes seguimos caminhos de nenhures, atrasamo-nos, mostrando o nosso «desinteresse» ou seriedade, e empreendemos, não raro, tarefas que estão para além da nossa própria missão; Assim se mostra uma grande sabedoria, e ainda a suprema sabedoria: ali onde o «nosce te ipsum» seria a receita para um homem se perder, para esquecer-se de si próprio, para se desconhecer e diminuir, chega a ser, afinal, a razão mesma de existir. Exprimindo-me em termos morais: o amor ao próximo, a vida ao serviço dos outros e de outra causa, podem ser meios seguros de conservar o egoísmo mais consistente. Este é o caso excepcional em que, contra a minha regra e a minha convicção, tomo partido pelos instintos «desinteressados»: eles trabalham aqui ao serviço do egoísmo e do exclusivo interesse pessoal.

Cumpre conservar isenta toda a superfície da consciência - a consciência é uma superfície - do contacto de qualquer dos grandes imperativos. Cuidado com as grandes atitudes! E nítido O risco de que o instinto «se compreenda» demasiado depressa a si próprio. Entretanto, a ideia organizadora, a «ideia» que tende a dominar, vai surgindo, crescendo, nas profundidades, começa a ordenar-se, leva-nos após si, pouco a pouco, por caminhos laterais e desviados, suscita discretas disposições e possibilidades que um dia se revelarão como meios indispensáveis a alcançar o fim autêntico - coloca em série todas as potências requeri das antes de fazer surgir a nota dominante e imperiosa que dá a «meta», o «fim», o «sentido».

Considerada neste aspecto, é a minha vida simplesmente maravilhosa. Para a tarefa da transmutação dos valores requeriam-se faculdades tais que nunca se reuniram num só indivíduo e, sobretudo, também, faculdades opostas que entre si não se perturbassem ou destruíssem.

<< Página Anterior

pág. 36 (Capítulo 3)

Página Seguinte >>

Capa do livro Ecce Homo
Páginas: 115
Página atual: 36

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
INTRODUÇAO 1
Porque sou tão sábio 5
Porque sou tão sagaz 20
Porque escrevo tão bons livros 41
A Origem da Tragédia 52
Considerações intempestivas 58
Humano, demasiado Humano 64
Aurora 71
O Alegre Saber 75
Assim falou Zaratustra 76
Para além do Bem e do Mal 91
Genealogia da moral 93
Crepúsculo dos ídolos 95
O caso Wagner 98
Por que sou uma fatalidade 106