Ecce Homo - Cap. 4: Porque escrevo tão bons livros Pág. 46 / 115

Entre as meus conhecidos há vária qualidade de bichos... Servem-me alguns para experiências, nas quais verifico as reacções produzidas pelas meus escritos: reacções diversas, mas de diversidade muito instrutiva. .Os que pretendem não ter que ver com o tear dos meus livros, os chamados meus amigos, por exemplo, tornam-se «impessoais» em seus juízos, felicitam-se comigo por eu ir tão «longe», e por se notar um progresso na maior serenidade de tom... Os «espíritos» completamente viciados das «belas almas», que são falsidade de cima abaixo, não sabem absolutamente o que fazer com tais livros; olham-nos por conseguinte por cima do ombro, de acordo com a bela lógica de todas as «belas almas». Os animais cornudos que eu conheço, alemães sem mistura, com sua licença, dão a entender que nem sempre são da minha opinião; mas algumas vezes... Ouvi dizer isto até ao Zaratustra... Assim, também, todo o «feminismo», e até o dos homens, encontra em mim porta fechada; jamais neste labirinto de conhecimentos temerários os feministas entrarão. Importa não ter sido nunca complacente consigo próprio, poder contar entre as suas qualidades a «dureza», dureza que permite permanecer o homem sereno e equânime ante as verdades duras e nítidas. Quando me ponho a fantasiar a imagem de um leitor perfeito, sempre ela se configura como um prodígio de coragem e de curiosidade, e, além, disso, de agilidade astuciosa, um prudente aventureiro e descobridor nato. E finalmente: não me seria dado dizer isto, não poderia dizê-lo, àquele a quem só no fundo eu me dirijo, melhor do que Zaratustra o disse. Pois a quem pretende ele exclusivamente expor os seus enigmas?

«A vós, audazes investigadores, a vós outros, tentadores, e a todo o que alguma vez empreendeu,





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