Os Pobres - Cap. 23: XXII - A filosofia do Gabiru Pág. 133 / 158

Não teve tempo para olhar a montanha, o mar, o céu – o espectáculo de Deus não o viu – porque corria atrás da felicidade. Não perdeu uma hora apanhando sol como um mendigo, tendo piedade de seus irmãos, dando mão aos desgraçados, porque vivia numa aflição, atrás do quê? Da felicidade. Não se sentiu a sós consigo, não se encontrou, nem sequer um dia da sua vida perdeu olhando-se cara a cara, ele e a sua alma, fechado com o seu coração. Porquê? Porque corria atrás da felicidade. Desprezou tudo, a vida, a respiração dos montes; riu-se do amor, da emoção – futilidades – porque feroz, incansável, negro como um mineiro, ele buscava, sem perder um minuto – a felicidade! Chegou ao termo da jornada, tendo amontoado oiro e pão, tirado a outras bocas, tendo feito gritar, blasfemar, contente o seu orgulho e a sua vaidade mas afinal profundamente desgraçado. Está a dois passos da cova. Interroga-se e não compreende. Então isto é que era a felicidade? De que me serve tudo isto? O desgraçado não reparou que a felicidade na vida estava exactamente no que ele tinha desdenhado!

Ama, ama a teus irmãos e vê-lo-ás transformados e cheios de beleza: mesmo nos mais secos irás encontrar coisas inesperadas; ama a natureza, os montes, as pedras – e verás que espectáculo sublime; ama, que sentirás a mão de Deus pousar sobre a tua cabeça.

Torna a vida simples e serás feliz. A tua vida não custará gritos; o teu pão não será furtado a bocas famintas. Por cada homem que amontoa oiro, há cem criaturas morrendo no desespero e na aflição.





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