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Capítulo 23: XXII - A filosofia do Gabiru

Página 132
Que precisas para o sentir? Amor.

Vive uma vida simples, a vida de que os pobres se aproximam, com emoção e o teu pedaço de pão negro, olhando o prodigioso mistério, e serás feliz.

Lavra o teu campo, e, nas horas perdidas, olha, prende-te à abóbada do céu, ao homem, à montanha, à árvore, ao mar – e ouvirás Deus em ti, sentindo atravessar-te uma frescura mais viva do que a água das rochas.

Deus está muito perto de ti – e é por isso mesmo que não o vês. A dois palmos da secura passa muitas vezes um veio de água escondido. Basta cavar na crosta da terra, para que o chão gretado e pedregoso se transforme. Que torrente de emoção não vai atravessando os mundos, os homens, as folhas secas e os globos de oiro do céu!

O homem enredou-se de tal forma na ambição, no ódio, na guerra, que perdeu o sentido da vida – tão simples e tão larga – e que deixou de ver Deus, sempre presente ao seu lado.

Para o encontrar, precisa de voltar ao amor das coisas simples e grandes – ao amor dos seus irmãos, da natureza, e de abrir o seu coração a esse fluido misterioso.

A vida artificial é que transformou o homem. Da vida artificial é que nasceu o orgulho, é que nasceram a ambição, os erros, o crime – e até a piedade. Se todos vivêssemos da verdadeira existência – o homem seria feliz. Como se pode redimir tudo isto? Pregando o Amor.

Só o Amor nos pode ainda salvar.

Agora vejo! agora vejo! Que montão de infâmias!

que montão de crimes! O homem trabalha desesperado, atrás do oiro, da ambição, da vaidade, do sonho vão, para quê? Para ser desgraçado. Um trabalho férreo e hercúleo – para gritar, e encontrar-se ao fim, a dois passos da cova, com inutilidades, carregado de dores e de opróbrios. Não hesitou em despedaçar, em calcar, em mentir – em busca do que ele julgava a felicidade, e que era apenas o erro.

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Capa do livro Os Pobres
Páginas: 158
Página atual: 132

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Carta-Prefácio 1
I - O enxurro 18
II - O Gebo 23
III - As mulheres 28
IV - O Gabiru 35
V - História do Gebo 42
VI - Filosofia do Gabiru! 49
VII - Primavera 52
VIII - Memórias de Luísa 59
IX - Filosofia do Gabiru 63
X - História do Gebo 67
XI - Luísa e o morto 73
XII - Filosofia do Gabiru 77
XIII - Essa rapariguinha 81
XIV - O escárnio 87
XV – Fala 94
XVI - O que é a vida? 97
XVII - História do Gebo 109
XVIII - O Gabiru treslê 114
XIX - A Mouca 118
XX - A outra primavera 121
XXI - A Morte 126
XXII - A filosofia do Gabiru 130
XXIII - A Árvore 134
XXIV - O ladrão e a filha 139
XXV - Natal dos pobres 143
XXI - Aí têm os senhores a natureza! 154