Uma noite de Inverno, quando estávamos sentados junto do fogo, aventurei-me a sugerir-lhe que, quando acabasse de colar os extractos da sua agenda, empregasse as duas horas seguintes a tornar a nossa sala um pouco mais habitável. Não pôde negar a justiça do meu pedido, de modo que, com uma cara muito triste, saiu do quarto, ao qual voltou arrastando uma caixa de zinco. Colocou-a no meio do soalho e, acocorando-se num tamborete em frente dela, destapou-a. Reparei que já era a terceira, cheia de maços de papéis atados com fita vermelha em pacotes separados.
- Há aqui bastantes casos, Watson - disse ele, olhando para mim com expressão maliciosa. - Creio que, se você soubesse tudo o que esta caixa contém, me pediria para tirar alguns, em vez de pôr outros.
- São as notas dos seus principais trabalhos, então? - perguntei. - Eu desejei muitas vezes ter a relação desses casos:
- Sim, meu caro; aconteceram muitos anos antes de o meu biógrafo aparecer para me glorificar. - E levantou pacote após pacote, em jeito de carícia quase terna. - Watson, nem todos eles foram êxitos, sabe. Mas há aqui problemas muito curiosos. Aqui está a lista dos assassínios de Tarleton, e o caso de Vamberry, o comerciante de vinho, a aventura da velha russa, o caso singular da muleta de alumínio, bem como uma narrativa completa do Ricoletti do pé virado para dentro e da sua abominável esposa.