As memórias de Sherlock Holmes - Cap. 5: O Ritual de Musgrave Pág. 106 / 274

Pode imaginar a minha surpresa quando, ao olhar para o fundo do corredor, vi o brilho de uma luz que vinha da porta aberta da biblioteca. Apaguei a minha vela e fechei a porta que dá para o quarto. Naturalmente, a minha primeira ideia foi de que se tratava de ladrões. Os corredores de Hurlstone têm as paredes muito decoradas com troféus de velhas armas. De um desses retirei um machado de guerra e, então, deixando a minha vela, percorri na ponta dos pés o corredor e espreitei pela porta aberta.

«Brunton, o mordomo, estava na biblioteca. Encontrava-se sentado numa cadeira de repouso, completamente vestido, com uma tira de papel, que parecia um mapa, nos joelhos, e com a fronte mergulhada na mão, em profundo pensamento. Fiquei mudo de espanto, observando-o da escuridão. Uma pequena vela na borda da mesa derramava uma luz fraca, mas suficiente para mostrar que estava totalmente vestido. De repente, quando eu olhava, ele levantou-se da cadeira e, dirigindo-se a uma secretária ao lado, abriu-a e tirou uma das gavetas. Desta sacou um papel e, voltando ao seu assento, inclinou-se perto da vela na borda da mesa e começou a estudá-lo com muita atenção. A minha indignação pela calma com que examinava documentos da nossa família venceu-me, de modo que dei um passo em frente e Brunton, olhando para cima, viu-me de pé no limiar da porta. Pôs-se de pé rapidamente, o seu rosto ficou lívido de medo e enfiou no peito o papel que parecia um mapa que estivera a estudar.

«'- Então' - disse-lhe - 'é assim que paga a confiança que temos depositado no senhor? Pode deixar o seu lugar amanhã.'

«Curvou-se, com a aparência de um homem que está inteiramente esmagado, e saiu sem uma palavra.





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