As memórias de Sherlock Holmes - Cap. 7: O Corcunda Pág. 145 / 274

O Corcunda

Numa noite de Verão, alguns meses depois do meu casamento, eu estava sentado perto da lareira a fumar uma última cachimbada e cabeceando sobre um livro, porque tinha tido um dia de trabalho exaustivo. Minha mulher já havia subido, e o som da fechadura da porta do hall, um pouco antes, dissera-me que as criadas também já se haviam retirado. Tinha-me levantado da cadeira e sacudia a cinza do cachimbo, quando de repente ouvi o toque da campainha.

Olhei para o relógio. Era um quarto para a meia-noite. Não podia ser uma visita àquelas horas. Era, evidentemente, um doente e possivelmente eu iria passar a noite toda em pé. Dirigi-me ao hall, mal-humorado, e abri a porta. Para meu espanto, era Sherlock Holmes quem estava no degrau da porta.

- Ah! Watson - disse ele -, receava que fosse tarde de mais para o apanhar.

- Meu caro amigo, entre, por favor.

- Parece surpreendido, e não admira! E aliviado, também, calculo! Hum! Continua a fumar a mistura Arcádia dos seus dias de solteiro. Não há que enganar, com essa cinza leve que tem no seu casaco. Evidentemente, Watson, que está habituado a usar uniforme, mas nunca passará por um civil de puro-sangue enquanto conservar o hábito de meter o lenço na manga. Poderia alojar-me esta noite?

- Com prazer.

- Disse-me que tinha quarto de solteiro para um. E vejo que de momento não tem nenhuma visita importante. O bengaleiro prova-o.

- Dar-me-á muito prazer se ficar.

- Muito obrigado. Então alojar-me-ei em qualquer parte. Vejo com pena que tem um operário em casa. Está aqui um cheiro do demónio. Não é o esgoto, espero.

- Não, é o gás.

- Ah!, ele deixou duas pequenas marcas das suas botas no linóleo, precisamente onde bate a luz.





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