Não, obrigado, já ceei em Waterloo, mas fumarei uma cachimbada consigo com todo o prazer.
Passei-lhe a minha tabaqueira e, sentando-se à minha frente, fumou por algum tempo em silêncio. Eu estava convencido de que só um assunto importante o traria a minha casa a tal hora, de modo que esperei com paciência que se lhe referisse.
- Vejo que está profissionalmente muito ocupado - disse-me, olhando muito vivamente para mim.
- Sim, tive um dia cheio - respondi. - Pode parecer muito tolo a seus olhos - acrescentei -, mas não sei como o deduziu.
Holmes riu-se e disse:
- Tenho a vantagem de conhecer os seus hábitos, meu caro Watson. Quando tem poucas visitas, você vai a pé, e quando são muitas, utiliza um carro. Pelo que vejo, as suas botas, embora usadas, não estão sujas. Não posso duvidar, pois, de que hoje você esteve bastante atarefado para justificar o emprego de um coche.
- Excelente - disse.
- Elementar - respondeu. - É um desses exemplos no qual o raciocinador pode produzir um efeito que parece notável a um amigo, porque este passou por alto um pormenor que é a base da dedução. Pode dizer-se o mesmo, meu caro, do efeito de alguns desses pequenos esboços, que é inteiramente falso, dependendo, como acontece realmente, de reter nas suas próprias mãos alguns factores do problema que nunca se transmitem ao leitor. Ora, neste momento, estou na posição dos leitores, porque tenho aqui na mão diversas linhas de um dos casos mais estranhos que já deixaram perplexo o cérebro do homem; todavia, faltam-me um ou dois pontos que são necessários ao complemento da minha teoria. Mas hei-de descobri-los, Watson, hei-de descobri-los!
Os seus olhos inflamaram-se-lhe e um leve rubor coloriu-lhe a face.
