As memórias de Sherlock Holmes - Cap. 7: O Corcunda Pág. 164 / 274

De que valia a um náufrago aleijado voltar a Inglaterra e fazer-se reconhecer pelos velhos camaradas? Nem mesmo o meu desejo de vingança me levaria a fazê-lo. Preferia que Nancy e os meus antigos amigos pensassem no Henry Wood como tendo morrido com as costas direitas, e não vê-lo vivo a arrastar-se com uma bengala e a andar como um chimpanzé. Nunca duvidaram de que eu estava morto e eu queria que nunca duvidassem. Ouvi dizer que Barclay se casara com Nancy e subira rapidamente no regimento, mas nem isso me fez falar.

»Mas quando se envelhece, tem-se saudades da pátria. Levei anos a sonhar com os brilhantes campos verdes e com as sebes de Inglaterra. Havia economizado o bastante para fazer a viagem e então vim para aqui, onde estão os soldados, porque conheço os seus costumes e sei como diverti-los, e assim posso ganhar o bastante para me manter.

- A sua narrativa é muitíssimo interessante - disse Sherlock Holmes. - Já ouvi falar do seu encontro com Mrs. Barclay e do vosso mútuo reconhecimento. O senhor, então, segundo fui informado, seguiu-a até casa e assistiu pela janela a uma discussão entre os dois, na qual ela lhe lançou ao rosto a sua conduta. Os seus sentimentos venceram-no, o senhor correu através do jardim e precipitou-se entre eles.

- É isso mesmo, senhor. Mas, ao ver-me, ele lançou-me um olhar que eu dantes nunca vira em homem algum e caiu com a cabeça sobre o fogão de sala. Mas já estava morto antes de cair. Li a morte no seu rosto tão claramente como posso ler este texto sobre o fogo. A minha simples presença foi como se uma bala lhe atravessasse o coração culpado.

- E então?

- Então Nancy desmaiou e eu tirei-lhe da mão a chave, com a intenção de abrir a porta e ir em busca de auxílio.





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