Às dez horas da mesma noite saí para cumprir a minha missão. Havia dez mil vidas a salvar, mas era a de uma só pessoa que me ocupava o pensamento quando saltei o muro naquela noite.
»O meu caminho seguia um rio, então sem água, que esperávamos me ocultaria das sentinelas inimigas. Mas quando rodeei de rastos o final desse rio dei de frente com seis delas, que estavam agachadas na escuridão, esperando por mim. Logo fiquei atordoado com uma pancada e amarrado de pés e mãos. Mas o golpe verdadeiro foi no coração e não na cabeça. Pois, quando recuperei os sentidos e já estava em estado de entender as palavras das sentinelas, ouvi o suficiente para me certificar de que o meu camarada, o mesmo homem que me havia traçado o itinerário que eu devia seguir, me havia traído por intermédio de um servo nativo, entregando-me nas mãos do inimigo.
Não há mais necessidade de me demorar nessa parte. Os senhores agora sabem do que James Barclay era capaz. Bhurtee foi libertada no dia seguinte por Neill, mas os rebeldes levaram-me com eles na sua retirada e só depois de muitos anos passados é que eu vi de novo um rosto branco. Fui torturado e, ao tentar fugir, fui capturado e torturado outra vez. Os senhores podem ver a que estado fiquei reduzido. Alguns que fugiram para o Nepal levaram-me com eles, e então fui transferido para Darjeeling. Os montanheses de lá mataram os rebeldes que me levaram e tornei-me escravo deles por algum tempo, até que escapei. Mas, em vez de ir para o sul, tive de ir para o norte, até me encontrar entre os afegãos. Ali andei errando, cerca de um ano, e por fim voltei ao Punjab, onde vivi a maior parte do tempo entre os nativos e onde passei a ganhar a vida com as representações mágicas que tinha aprendido.
