As memórias de Sherlock Holmes - Cap. 8: O Paciente Internado Pág. 168 / 274

Toda a gente tinha saído da cidade e eu sonhava com as clareiras de New Forest ou com os cascalhos de Southsea. A minha quase esvaída conta bancária obrigara-me a adiar as férias e, quanto ao meu companheiro, nem o campo nem o mar o atraíam. O que ele gostava mesmo era de ficar no centro de cinco milhões de pessoas, estudando-lhes os caminhos e correndo no meio delas, atento a qualquer rumor ou suspeita de crime insolúvel. A apreciação da natureza não encontrava lugar entre os seus muitos dons e a sua única alteração era quando desviava a atenção do malfeitor da cidade para seguir a pista do seu colega do campo.

Considerando que Holmes estava demasiado absorto para conversar, atirei para um lado o jornal estéril, reclinei-me para trás na cadeira e caí numa meditação profunda. De repente, a voz do meu companheiro invadiu-me os pensamentos.

- Você tem razão, Watson - disse ele. - Parece uma maneira acertada de se resolver uma disputa.

- Muito acertada! - exclamei, e então, repentinamente, verificando como ele tinha lido o meu mais íntimo pensamento, levantei-me e olhei para ele com verdadeiro espanto: - O que é isso, Holmes? Isto está para além de tudo o que eu podia imaginar.

Riu-se, satisfeito com a minha perplexidade.

- Você lembra-se - disse ele - de quando, há algum tempo atrás, lhe li uma passagem de uma das obras de Poe em que um pensador atento segue os pensamentos não enunciados do seu companheiro, você interpretou o caso como um mero tour de force do autor. Observando-lhe eu que tinha constantemente o hábito de fazer a mesma coisa, mostrou-se incrédulo.

- Oh, não!

- Talvez não por palavras, meu caro Watson, mas certamente com os seus olhos.





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