- Estude-o; devia mesmo fazê-lo. Não há nada de novo no mundo. Tudo isso já foi feito.
Enquanto falava os dedos ágeis não paravam de mexer, tacteando, apertando, desabotoando, examinando, enquanto os olhos mantinham a mesma expressão distante a que já fiz referência. O exame foi feito com tal rapidez, que uma pessoa dificilmente teria adivinhado a minúcia com que fora conduzido. Por fim, cheirou os lábios do morto e depois deu uma vista de olhos às solas das botas de couro, de verniz.
- Não lhe mexeram? - perguntou ele.
- Apenas o que era necessário para a nossa investigação.
- Agora podem levá-lo para a morgue - disse ele. Não há mais nada para descobrir.
Gregson tinha uma padiola e quatro homens ali perto. Ao seu chamamento, entraram na sala, e o desconhecido foi erguido e levado. Quando o levantaram, tilintou um anel, que rolou pelo chão. Lestrade apanhou-o e olhou fixamente para ele com uma expressão de incredulidade.
- Esteve aqui uma mulher - gritou ele. - É uma aliança de mulher.
Mantinha-a na mão enquanto falava. Juntámo-nos todos à sua volta e ficámos a olhar para ela. Não havia sombra de dúvida que aquele anel de ouro liso adornara em tempos o dedo de uma noiva.
- Isto complica as coisas - disse Gregson. - Só Deus sabe como já estavam complicadas.
- Tem a certeza de que não as simplifica? - objectou Holmes. - Não adianta ficar a olhar para ela. Que lhe encontraram nos bolsos?
- Temos tudo aqui - disse Gregson, apontando para uma série de objectos espalhados num dos últimos degraus da escadaria. - Um relógio de ouro, n.º 9716, de Barraud de Londres. Uma corrente de ouro muito pesada e maciça. Um anel de ouro com a divisa da maçonaria. Um alfinete de ouro... com a cabeça de um buldogue, e os olhos são rubis. Um estojo para cartões de visita de couro da Rússia, com cartões de Enoch J. Drebber, de Cleveland, que corresponde às iniciais E. J. D. na roupa interior. Nenhuma carteira, mas dinheiro solto no valor de sete libras e treze xelins.
