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UMA CONTINUAÇÃO DAS MEMÓRIAS DO DR. JOHN WATSON
A resistência violenta do nosso preso não indicava aparentemente nenhuma ferocidade na sua maneira de ser contra nós próprios, porque, ao ver-se impotente, sorriu duma maneira afável e disse que esperava não ter magoado nenhum de nós durante a briga.
- Suponho que me vão levar para a esquadra da Polícia - comentou ele, virado para Sherlock Holmes. - O meu cabriolé está à porta. Se me soltarem as pernas irei a caminhar até lá. Não sou tão leve como antigamente para me levarem em braços.
Gregson e Lestrade trocaram olhares, como se considerassem esta proposta bastante ousada, mas Holmes acreditou imediatamente no preso e desapertou a toalha que lhe amarrara à volta dos tornozelos. Este levantou-se e esticou as pernas, como que para se assegurar de que estavam livres uma vez mais. Lembro-me que pensei para comigo mesmo, enquanto olhava para ele, que tinha visto poucas vezes um homem tão forte; o seu rosto moreno, queimado pelo sol, tinha uma expressão de determinação e energia tão terrível como a sua robustez.
- Se há uma vaga para chefe da polícia, creio que você é o homem indicado - disse ele, olhando fixamente para o meu companheiro de aposentos, com uma admiração sincera. - O modo como se manteve no meu rasto revela prudência.
- É melhor virem comigo - disse Holmes para os dois detectives.
- Eu posso levá-lo - disse Lestrade.
- Óptimo, e o Gregson pode ir lá dentro comigo. Você também, doutor. Interessou-se pelo caso e pode ajudar-nos.
Aquiesci com prazer e descemos todos juntos. O nosso preso não tentou fugir e entrou calmamente no cabriolé que fora seu; nós seguimo-lo. Lestrade subiu para o lugar do cocheiro, chicoteou o cavalo e levou-nos ao destino num curto espaço de tempo.