Cândido - Cap. 18: CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado Pág. 59 / 118

A conversação foi longa. Arrastou-se sobre a forma de governo, sobre os costumes, as mulheres, os espectáculos públicos e as artes. Por fim, Cândido, que ainda conservava o seu gosto pela metafísica, pediu a Cacambo que inquirisse se no país havia alguma religião.

O velho corou um pouco.

- Como pudestes duvidar disso? - disse ele. - Julgais-nos ingratos?

Cacambo perguntou humildemente qual era a religião do Eldorado. O velho corou outra vez.

- Pode então haver duas religiões? - respondeu. - Nós temos, creio, a religião de todo o mundo: adoramos Deus de manhã à noite.

- E adorais um único Deus? - perguntou Cacambo, que continuava a servir de intérprete às dúvidas de Cândido.

- Parece-me - disse o velho - que não pode haver dois, nem três, nem quatro. Confesso-vos que as pessoas do vosso mundo fazem perguntas bem singulares.

Cândido não se cansava de interrogar, através de Cacambo, o bom velho. Quis saber como se orava a Deus no Eldorado. - Não oramos - respondeu o bom e respeitável sábio -, nada temos a pedir-lhe, porque ele deu-nos tudo o que necessitamos. Apenas lhe agradecemos sem cessar.

Cândido sentiu curiosidade de ver padres e pediu a Cacambo que perguntasse onde eles estavam.

O bom do velho sorriu dizendo:

- Meus amigos, todos nós somos padres. O rei e todos os chefes de família cantam solenemente todas as manhãs cânticos de acção de graças e cinco ou seis mil músicos os acompanham. - O quê? Não tendes frades que ensinem, disputem, governem, intriguem e mandem queimar as pessoas que não são da sua opinião?

- Seria preciso que fôssemos loucos - disse o velho. -Aqui todos somos da mesma opinião e não entendemos o que quereis dizer com os vossos frades.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113