Cândido permanecia em êxtase e dizia para consigo, ao ouvir estas palavras: «Isto aqui é bem diferente da Vestefália e do castelo do Sr. Barão. Se o nosso amigo Pangloss tivesse visto o Eldorado, não diria mais que o castelo de Thunder-ten-tronckh era o que havia de melhor na Terra. É um facto indiscutível que é preciso viajar-se.»
Depois desta longa conversação, o bom velho fez atrelar a um carro seis carneiros e mandou que doze dos seus criados acompanhassem os dois viajantes à corte.
- Perdoai-me - disse-lhes - se a idade me priva da honra de vos acompanhar. O rei receber-vos-á de maneira que vos há-de agradar, e desculpareis certamente alguns dos usos do nosso país que vos não satisfaçam.
Cândido e Cacambo subiram para o carro e os seis carneiros correram, como se voassem, e em menos de quatro horas chegaram ao palácio do rei, situado num dos extremos da capital. A fachada tinha cento e vinte cinco pés de altura por cem de largura e é impossível descrever a matéria em que fora edificado. Calcule-se a superioridade prodigiosa que devia ter sobre os calhaus e a areia a que chamamos ouro e pedrarias.
Vinte lindas raparigas da guarda receberam Cândido e Cacambo ao descerem da carruagem, conduziram-nos ao balneário e vestiram-lhes depois fatos feitos de um tecido de penugem de colibri. Em seguida, os grandes oficiais e as damas da corte levaram-nos aos aposentos de Sua Majestade, no meio de duas filas de mil músicos cada uma, como era uso.
Quando se aproximavam da sala do trono, Cacambo perguntou a um oficial como deviam proceder ao saudar Sua Majestade: se deviam pôr-se de joelhos ou prostrar-se no chão, se haviam de pôr as mãos na cabeça ou no rabo, se deveriam lamber a poeira da sala; numa palavra, como era a cerimónia.