Cândido - Cap. 18: CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado Pág. 61 / 118

- O uso - respondeu-lhe o alto dignitário - é abraçar o rei e beijá-lo nas duas faces.

Cândido e Cacambo saltaram ao pescoço de Sua Majestade, que os recebeu com uma amabilidade extraordinária e os convidou delicadamente para jantar.

Entretanto, mostraram-lhes a cidade, os edifícios públicos, que chegavam até às nuvens, as praças, ornadas de mil colunas, as fontes de água pura, água cor-de-rosa e licores de cana-de-açúcar, que corriam constantemente nas grandes praças, pavimentadas por uma espécie de pedrarias que exalavam um odor semelhante ao do cravinho e da canela. Cândido pediu para ver o Palácio de Justiça e o Supremo Tribunal. Disseram-lhe que não existiam, no Eldorado não havia pleitos. Perguntou se havia prisões e disseram-lhe que não. O que mais o surpreendeu e maior prazer lhe deu foi o Palácio das Ciências, onde viu uma galeria de dois mil passos, cheia de instrumentos de matemática e de física.

Depois de terem percorrido cerca da milésima parte da cidade, reconduziram-nos ao palácio. Cândido sentou-se à mesa entre Sua Majestade, o seu criado Cacambo e algumas damas. Nunca tinham comido banquete tão excelente e jamais tinham ouvido alguém com tanto espírito como Sua Majestade. Cacambo explicava a Cândido os ditos do rei, que, apesar de traduzidos, mesmo assim eram preciosos. De tudo o que o admirou, não foi isso o que menos o espantou.

Passaram um mês neste hospício. Cândido não se cansava de dizer a Cacambo:

- É verdade, meu amigo, mais uma vez afirmarei que o castelo em que nasci não vale o país em que nos encontramos, mas a verdade é que a menina Cunegundes não está aqui e vós tendes, sem dúvida alguma, amante na Europa. Se ficarmos aqui, seremos apenas homens como os outros, ao passo que, se voltarmos ao nosso mundo, mesmo que levemos unicamente uma dúzia de carneiros carregados de pedras do Eldorado, seremos mais ricos que todos os reis juntos.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113