Camões - Cap. 6: CANTO SEXTO Pág. 105 / 177

Admirado

De ver trajar alfaias lusitanas

Às homéreas belezas, aos apuros

Das virgilianas graças, - mais ainda

De originais, de novas formosuras

Por antigos cantores não sabidas,

- Cantores que jamais cuidou possível

Igualar, exceder por arte humana -

Seu generoso natural ardente

Se lhe inflamou de nobre entusiasmo:

- «É obra tal (exclamou), tamanho engenho,

Tão nobre amor da pátria, tão sublime,

Árdua empresa, trabalho tão difícil

Não terá galardão? Quem há mer’cido

Tanto da pátria por espada e pena,

Ingrata a pátria o deixará sem prémio?

Irá mendigo e súplica implorando

A chatim mercador de ganho avaro,

O humildoso favor de que lhe aceite

Tal obra e tanta, por mesquinho preço

Que, porventura, nem lhe mate a fome

Nem lhe cubra a nudez - Oh!...» Resoluto

Toma o bordão, caminho vai de Sintra,

A Aleixo fala, expõe-lhe o triste caso,

Maravilhas que leu conta, e as virtudes

E assinalados feitos do homem grande

Que em vão apouca a sorte.





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