Camões - Cap. 1: CANTO PRIMEIRO Pág. 15 / 177

A mão tremente

Em viageiro bordão arrima; e calçam

Nus os pés as sandálias costumadas

A sacudir o pó da terra do ímpio.

Rico de afrontamentos e trabalhos,

Vinha do longe Oriente à ocídua praia,

Não ao repoiso plácido à velhice,

Mas a solicitar novas fadigas

Em recompensa d’outras. Destes eram

- Antes de se enredar em vãs disputas

De orgulho e presunção mais que mundana -

Os que n’Ásia opulenta, África adusta

Levavam depós si nações inteiras

Ao culto de um só Deus, da lei mais santa,

Que - tirai-lhe o que os homens lhe hão mesclado -

Jamais na terra apregoaram homens.

XIV

Foi este o anjo de paz que em tal fermento

De azedas iras verteu mel suave

Da branda persuasão que as amacia.

- «Cavaleiro, essa mão na cruz da espada»

Disse grave e solene o missionário,

«Quer dizer inimigo, à frente, - na aze

Da batalha, em pendência generosa

Pelo rei, pela pátria.





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