O escutava: do humilde e pobre escravo
O coração fiel se retalhava
De ouvi-lo assim queixar: - «Ah! se eu não fora»
- Com os olhos e as lágrimas dizia;
Com os olhos, que os lábios não ousavam -
«Ah! se eu não fora um desgraçado escravo,
Que coração que eu tinha para dar-lhe!»
XI
Tu, generoso amo, lhe entendeste
Seu falar mudo, seu dizer de lágrimas,
- «Tens razão; injustiça é grande a minha:
Inda tenho um amigo.»
Pausa longa
Seguiu estas palavras; e no peito
Ao generoso António desafoga
O coração que lhe apertava a mágoa;
Nos olhos, rasos do chorar ainda,
A alegria lhe ri por entre o pranto,
E o amo, a quem sinais de tanto afecto
Movem no íntimo d’alma, sente um golpe
De bálsamo cair-lhe sobre as chagas
Do coração lanhado, a dextra lânguida
Poisa no ombro fiel, o peito encosta
Sobre o peito leal do amigo.