Camões - Cap. 10: CANTO DÉCIMO Pág. 167 / 177

interrompeu: era o seu Jau que aflito

O escutava: do humilde e pobre escravo

O coração fiel se retalhava

De ouvi-lo assim queixar: - «Ah! se eu não fora»

- Com os olhos e as lágrimas dizia;

Com os olhos, que os lábios não ousavam -

«Ah! se eu não fora um desgraçado escravo,

Que coração que eu tinha para dar-lhe!»

XI

Tu, generoso amo, lhe entendeste

Seu falar mudo, seu dizer de lágrimas,

- «Tens razão; injustiça é grande a minha:

Inda tenho um amigo.»

Pausa longa

Seguiu estas palavras; e no peito

Ao generoso António desafoga

O coração que lhe apertava a mágoa;

Nos olhos, rasos do chorar ainda,

A alegria lhe ri por entre o pranto,

E o amo, a quem sinais de tanto afecto

Movem no íntimo d’alma, sente um golpe

De bálsamo cair-lhe sobre as chagas

Do coração lanhado, a dextra lânguida

Poisa no ombro fiel, o peito encosta

Sobre o peito leal do amigo.





Os capítulos deste livro