Camões - Cap. 5: CANTO QUINTO Pág. 87 / 177

Alta a noite, escutei o carpir fúnebre

Do nauta que suspira por um túmulo

Na terra de seus pais; e aos longos pios

Da ave triste ajuntei meus ais mais tristes...

Rosa d’amor, rosa purpúrea e bela,

Quem entre os goivos te esfolhou da campa?

IV

«Os ventos pelas gáveas sibilaram;

Duras rajadas d’escarcéu tremendo

As descosidas pranchas semeavam

Pelas cavadas ondas... Feia a morte

Nos acenou coas roxas agonias

Malditas da esperança... - E eu só a via;

Eu só, na cerração da tempestade,

Via brilhar a luz da meiga estrela.

Único norte meu. Por mar em fora

Os duros membros negros estendia

Esse Gigante cujo aspecto horrendo

Primeiro eu vi, primeiro a seus amores

Corri o véu dos interpostos séculos:

Quis-me punir do ousado sacrilégio

Com que os segredos seus vulguei na lira.





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