As iras lhe arrostei, ouvi sem medo
Os amarelos dentes a ranger-lhe
Por entre os furacões d’atra procela.
Vi-lhe a esquálida barba, de despeito,
Arrepelar-se, e a cor terrena e pálida
Ao clarão dos relâmpagos luzir-lhe
Da sanguinosa cólera inflamada.
Não me aterrou, que do almejado porto
Me alumiava o farol de luz amiga...
Lume consolador, fanal d’esp’rança,
Quando na praia já, sem luz me deixas!
Engano lisonjeiro da existência.
Que verdade cruel te há dissipado?
Que ímpia mão te ceifou no ardor da sesta,
Rosa de amor, rosa purpúrea e bela?
V
«Os ecos das soidões que lava o Ganges,
As veigas onde cresce a palma do Indo
Aprenderam teu nome. E o meigo acento
De minha branda lira repetindo,
No sussurro das folhas recendentes
A filha de Cíniras murmurava;
Seus perfumados troncos, entalhados
Por minhas mãos, embalsamado pranto
Ao receber teu nome derramavam:
A criminosa Mirra parecia
De tão virtuoso amor envergonhar-se.