Camões - Cap. 5: CANTO QUINTO Pág. 91 / 177

Sobre um calvo serro

Na pedregosa encosta da montanha

Que os mouriscos torreões inda coroam,

Assim cantava aos sossegados ventos,

Qual moribundo cisne gorjeando

Pelas ribas do Eurotas. Parecia

Que manso pelas auras suspirava

A enternecida Inês, vendo seu vate,

Seu imortal cantor gemer como ela.

Ele uma seca, emurchecida c’roa

De desfolhadas rosas apertava

No ansiado peito: a fio e fio as lágrimas

- Embalde! sobre as flores ressequidas

Corriam da grinalda; o acre do pranto

Mais lhe queimava a tez: não torna ao viço

Flor que poisou na loisa do sepulcro.

IX

Nascia o sol: a névoa que rebuça

De húmido manto os cumes das montanhas

No alvorecer do dia, em véu ligeiro

Rara se adelgaçava; resplendiam

No sossegado mar os doces raios

Da recém-nada luz.





Os capítulos deste livro