Voltei a sentir-me gelado pela sensação do irreparável. E tive consciência de que me era insuportável pensar que nunca mais ouviria aquele riso. Para mim, era como uma fonte no meio do deserto.
- Quero ouvir-te rir mais uma vez, meu rapazinho!
Mas ele disse:
- Esta noite vai fazer um ano. A minha estrela há-de estar precisamente por cima do lugar onde eu caí no ano passado...
- Ora ouve lá: essa história da serpente e de tu ires ter com ela e da estrela é tudo um sonho mau, não é?
Mas ele não respondeu à minha pergunta. Disse:
- O que é importante, não se vê...
- Pois não...
- É como com a flor. Quando se ama uma flor que está plantada numa estrela, é bom olhar para o céu, à noite. É que todas as estrelas ficam floridas...
- Pois ficam...
- E é como com a água. A que tu me deste de beber era como uma música, por causa da roldana e da corda... Lembras-te?.. Era tão boa!
- Pois era...
- Depois, à noite, pões-te a olhar para as estrelas. A minha é pequenina demais para se ver daqui. Mas é melhor assim: para ti, a minha estrela vai ser uma estrela qualquer. Assim gostas de olhar para as estrelas todas... Todas elas serão tuas amigas. E agora vou dar-te uma prenda!
E voltou a rir.
- Ah, meu menino, meu menino, como eu gosto de ouvir esse teu riso!