Íamos no oitavo dia da minha avaria no deserto e, enquanto o principezinho me contava a história do vendedor, eu tinha bebido a última gota da minha provisão de água.
- Ah! - disse eu para o principezinho. - É bem bonito, isso que tu me contas! Mas eu é que ainda não consertei o meu avião e já não tenho nada que beber! Olha que eu é que havia de ficar bem contente se me pudesse pôr a andar muito de mansinho à procura de uma fonte!
- A minha amiga raposa... - começou ele.
- Ó meu rico menino, agora já não se trata de raposas, nem de meias raposas...
- Porquê?
- Porque vamos morrer de sede...
Não percebeu o meu raciocínio e respondeu:
- É bom ter um amigo, mesmo quando se está para morrer. Eu cá estou bem contente por ter tido uma amiga raposa...
"Não tem a noção do perigo", pensei eu. "Nunca tem fome nem sede. Basta-lhe um bocadinho de Sol... "
Mas o principezinho olhou para mim e respondeu aos meus pensamentos:
- Também eu tenho sede... Vamos à procura de um poço...
Fiz um gesto de impotência: é perfeitamente absurdo uma pessoa pôr-se assim, às cegas, à procura de um poço na imensidão do deserto. - Mas lá nos pusemos em marcha.
Depois de termos caminhado horas e horas em silêncio, fez-se de noite e as estrelas começaram a brilhar. Via-as como em sonhos porque estava com uma ponta de febre por causa da sede.