- Não. Eu, cão ruim, comer tudo.
Dei-lhe então uma das minhas tortas, que tirei de um pequeno bornal que costumava levar sempre comigo. Ofereci-lhe também um trago de rum mas não o quis provar, e guardou-o para o pai. Ainda conservava no bolso dois ou três cachos, dos quais lhe dei também para ele. Mal lhe levou as uvas, vi-o sair da canoa como se estivesse enfeitiçado e fugir com tanta velocidade que nunca vi corredor mais ágil. A sua rapidez era tão grande que num instante o perdi de vista. Mesmo que o tivesse chamado e gritado, indo atrás dele, estou certo de que não pararia. Voltou em menos de um quarto de hora, mas com menos pressa do que partira; e quando se acercou, vi que caminhava com muito cuidado, isto é, que trazia algo na mão.
Chegado perto de mim, fez-me ver que tinha ido a casa buscar uma das minhas vasilhas de barro para trazer água fresca ao pai. Na outra mão levava duas bolachas. Deu-mas e levou a água ao pai; apesar disso, como eu estava igualmente muito perturbado, provei alguns bocados. A água reanimou logo o velho, melhor do que o rum que lhe dera, pois estava a morrer de sede. Quando o pai de Sexta-Feira acabou de beber, chamei este último e perguntei-lhe se ainda sobrava um pouco de água. Respondeu-me que sim. Ordenei-lhe então que a levasse ao pobre espanhol, que precisava de tantos cuidados como o pai; mandei-lhe também uma bolacha das que Sexta-Feira trouxera. O espanhol, que se sentia, de facto, muito debilitado, descansava na erva, à sombra de uma árvore, com os membros intumescidos e inchados devido aos fortes laços com que o haviam prendido. Vi que quando Sexta-Feira se abeirou dele se ergueu para beber, e depois pegou no pão que começou a comer. Nisto dirigi-me para ele, e dei-lhe um grande cacho de uvas.