Robinson Crusoe - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 228 / 241

Aquele falou-lhes da falta em que se tinham constituído culpados relativamente a ele e da posição a que os havia reduzido; disse-lhes que, embora o governador lhes tivesse perdoado a vida, seriam sem dúvida todos enforcados se os enviasse para Inglaterra mas que, se quisessem secundar uma empresa tão justa como era a de recuperar o buque, obteriam do governador a graça de serem perdoados inteiramente.

Avalie-se com que precipitação seriam aceites as ditas ofertas por uns homens que se encontravam numa posição tão crítica.

Ajoelharam-se todos aos pés do comandante e prometeram-lhe, com as mais terríveis imprecações, que lhe seriam fiéis e que derramariam até à sua última gota de sangue por ele; que sendo-lhe devedores da vida, o seguiriam até ao fim do mundo; e, finalmente, que o respeitariam como a um pai enquanto vivessem.

- Está bem - disse o comandante -; vou repetir ao governador o que acabam de dizer, e ver se posso conseguir que me dê o seu consentimento.

Veio com efeito, dar-me conta da disposição da sua gente, dizendo-me que os julgava sinceramente fiéis.

Mesmo assim, para maior segurança, obriguei-o a voltar a escolher cinco deles, dizendo-lhes, a fim de lhes demonstrar que não tinha o mais leve cuidado nem receio, que não precisava de mais de cinco homens para o ajudarem, mas que o governador conservara os dois que ficassem e os três prisioneiros como reféns para responderem pela fidelidade dos cinco, e que se estes cometessem alguma traição no desempenho da sua empresa, os outros cinco que ficassem como reféns seriam enforcados na praia. Esta condição pareceu-lhes severa, e convenceram-se de que eu não era um governador qualquer. Não obstante, não podiam fazer outra coisa que não fosse aceitar, e os cinco prisioneiros restantes interessaram-se então tanto como o comandante em persuadi-los a cumprir o seu dever.

As nossas forças prepararam-se para a expedição do modo seguinte: primeiro, o comandante, o seu imediato e o passageiro; segundo, os dois prisioneiros da primeira leva, aos quais, segundo as indicações do comandante, havia dado liberdade e confiado armas; terceiro, os outros dois que tinham estado amarrados até então no meu bosque, e que eu acabava de soltar a pedido do comandante; quarto, os cinco homens livres, à retaguarda.





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