Robinson Crusoe - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 227 / 241

Embora tudo isto não passasse de uma mera ficção, produziu, claro, o efeito desejado. Atkins caiu de joelhos e suplicou ao comandante que intercedesse por ele junto do governador; os demais rogaram-lhe em nome de Deus que não os mandasse para Inglaterra.

Ocorreu-me então que o momento da nossa libertação tinha chegado, e que seria muito fácil conseguir que aqueles homens trabalhassem de boa vontade na recuperação do buque. Metido na escuridão, para que não vissem a que género de governador estavam sujeitos, chamei em voz alta pelo comandante que viesse junto de mim. E como me encontrava a uma grande distância, um dos meus tinha ordem para dizer perto dele:

- Comandante, o governador mandou chamá-lo. Ele respondeu:

- Diga a Sua Excelência que vou imediatamente.

Esta cena saiu muito correcta e todos ficaram convencidos de que o governador se achava perto dali com os seus cinquenta homens.

Quando o comandante se me juntou, comuniquei-lhe meu plano para nos apoderarmos do buque. Pareceu-lhe admirável, e resolveu pô-lo em execução no dia seguinte de manhã. Eu disse-lhe, no entanto, que para o executar com mais habilidade e ficarmos certos de um bom êxito, devíamos separar os prisioneiros; que era necessário, por conseguinte, agarrar em Atkins e em outros dois dos mais revoltosos e mandá-los bem amarrados para a gruta onde se encontravam os primeiros. Isto foi encomendado a Sexta-Feira e aos dois companheiros do comandante.

Conduziram-nos para ali como se fosse uma prisão e, de facto, era um lugar assombroso para a situação daqueles homens. Quanto aos restantes, fi-los fechar na casa de campo, da qual já fiz uma descrição completa. Como estava bem rodeada de estacas, e os prisioneiros tinham os braços amarrados, o local era bastante seguro, tendo, além disso, em conta que a sua sorte dependia da sua conduta.

No dia seguinte mandei o comandante lá conferenciar, a fim de os sondar e dizer-me se poderia contar com eles para ir a bordo e surpreender o buque.