Recompensei imediatamente o meu velho amigo, o comandante, e nomeei-o plenipotenciário da minha plantação, a ele devendo prestar contas regularmente os meus administradores brasileiros.
Regressei então a Inglaterra, para resolver também aí os meus assuntos. Um pressentimento curioso impeliu-me a não viajar de barco, mas sim a tomar o caminho por terra, embora tivesse já escolhido dois buques, dos quais um devia levar a minha equipagem e o outro transportar-me. Ambos se perderam. O primeiro caiu nas mãos dos piratas, o segundo afundou-se em frente da costa francesa.
Terminada, enfim, a viagem, pouco tempo depois pude reunir toda a minha nova fortuna em segurança; as letras de câmbio que trazia foram pagas pontualmente.
O meu principal guia e conselheiro era a boa velha viúva que, agradecida pelo dinheiro que lhe mandara, tudo fazia para me agradar. Descansava, portanto, completamente nela, sem quaisquer preocupações acerca da segurança da minha fortuna; e, efectivamente, desde o primeiro ao último dia, só tive motivos para elogiar a probidade daquela boa e digna senhora.
Resolvi então desfazer-me da minha plantação do Brasil, se me aparecesse uma boa oportunidade. Com esta ideia escrevi ao meu antigo amigo de Lisboa que, tendo proposto o negócio a dois comerciantes do Brasil, herdeiros dos meus administradores, o aceitaram pelo preço de trinta e três mil moedas de prata, pagas em casa de um dos correspondentes em Lisboa. Assinei a escritura de venda, e remetia-a ao meu amigo, o antigo comandante, que me mandou letras de câmbio no montante de trinta e duas mil e setecentas moedas de prata, reservando o juro para ele e para o filho conforme lhe prometera.
Dou aqui por findo o relato da primeira parte da minha vida de aventuras, verdadeira obra na qual a Providência trabalhou transformando-a de mil maneiras; uma vida iniciada loucamente e terminada com felicidade como eu não podia nem devia esperar.