É possível que alguém possa imaginar que, encontrando-me numa situação tão vantajosa sob todos os pontos de vista, me passasse pela ideia meter-me em novos sarilhos? Não creio realmente que tal ideia me tivesse ocorrido se diversas circunstâncias não se houvessem reunido para me arrancar a uma vida tranquila e aprazível, à qual, porém, parecia não estar destinado.
Habituara-me a uma existência errante, sem família, e tinha poucos parentes; embora rico, não estava muito relacionado e continuava a sentir uma certa atracção pelo Brasil, mesmo depois de ter vendido tudo quanto lá possuía. Experimentava desejos vivíssimos de fazer uma viagem; sobretudo, não podia resistir ao capricho de tornar a ver a minha ilha e saber como se teriam arranjado os pobres espanhóis. A viúva, minha amiga fiel, esforçou-se por dissuadir-me do dito projecto e conseguiu que, durante sete anos, eu não o pusesse em execução.
Durante esse tempo tomei sob tutela dois dos meus sobrinhos, filhos de uma das minhas irmãs. Ao mais velho, que possuía alguns bens, dei uma educação aristocrática e arranjei-lhe uma renda, acrescentando ao que ele tinha uma soma bastante confortável, na posse da qual deveria entrar após o meu falecimento. Confiei o outro a um comandante de navio, e como era um jovem sensato, valoroso e intrépido, embarquei-o num magnífico buque. Este rapaz foi quem mais tarde me induziu, apesar de eu já ser muito velho, a empreender novas aventuras.
Mesmo assim, pensei em estabelecer-me. Para começar, casei muito vantajosamente; desde matrimónio tive três filhos, dois varões e uma menina.
Mas a minha mulher faleceu e, tendo o meu sobrinho regressado de uma viagem a Espanha, que realizara com muito bom êxito, o meu desejo de sair de Inglaterra e a sua insistência acabaram por vencer; fez-me, pois, prometer que embarcaria no seu buque como um comerciante particular que fosse em viagem de negócios às Índias Orientais. Isto aconteceu em 1694.