Aquela caça era uma diversão para nós, mas não aumentou as nossas provisões; lastimava ter perdido três cargas de pólvora e chumbo por causa de um animal que não podia servir-nos para nada. Xuri quis pedir-me uma coisa: veio a bordo e suplicou-me que lhe desse o machado. Perguntei-lhe o que pretendia fazer.
- Cortar-lhe a cabeça - respondeu-me.
Mas tal empresa era superior às suas forças, e contentou-se em cortar-lhe uma pata monstruosamente grande e em trazer-ma.
Depois calculei que a pele do leão poderia ter algum valor e resolvi esfolá-lo, se pudesse. Metemos logo mãos à obra. Xuri foi o meu mestre naquele trabalho, porque eu não sabia como fazê-lo. Uma tal operação ocupou-nos o dia inteiro mas, por fim, conseguimos tirar a pele e estendemo-la sobre o nosso camarote, onde o sol a secou em dois dias; depois serviu para eu me deitar em cima.
Abandonando aquele lugar, fizemo-nos à vela em direcção ao sul durante dez ou doze dias, economizando as provisões, que começavam a escassear, e só descendo a terra para ir buscar água. O meu propósito era então dirigir-me para o Senegal, isto é, chegar às alturas de Cabo Verde, onde esperava encontrar algum buque europeu.