Robinson Crusoe - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 33 / 241

Mal chegou a Lisboa, o comandante enviou a um comerciante de Londres, por intermédio de outro inglês estabelecido em Portugal, a minha ordem e a narrativa da minha história. Aquilo desempenhou tao bem a sua missão que a viúva não só lhe entregou a soma pedida como, além disso, juntou da sua algibeira uma prenda muito bonita para o comandante português que tão nobremente se tinha comportado para comigo.

O comerciante de Londres converteu as cem libras esterlinas em mercadorias inglesas, segundo as instruções do comandante, e enviou-as para Lisboa, de onde o meu amigo bem depressa mas trouxe para o Brasil. Entre os objectos, sem que eu os tivesse pedido (pois era demasiado jovem e sem experiência para ter tal previsão), vinham uma porção de utensílios e instrumentos de ferro necessários para o trabalho da minha plantação, que me serviram de grande recurso.

Quando chegou o carregamento fiquei tão surpreendido que julguei já feita a minha fortuna. O meu bom amigo, o comandante, havia empregado as cinco libras esterlinas, que a minha amiga lhe havia oferecido, na aquisição por seis anos de um criado, que ele mesmo trouxe, sem querer aceitar nada em troca a não ser um pouco de tabaco da minha colheita.

Isto não era ainda tudo: as mercadorias inglesas, como panos, fazendas e sarjas, eram muito procuradas no país. Vendi tudo tão vantajosamente que obtive o quádruplo do seu valor. Assim, em breve deixei para trás de mim o meu pobre vizinho, pois a seguir comprei um escravo negro e tomei ao meu serviço um segundo criado, de origem europeia, além daquele que o comandante me trouxera de Lisboa.

Mas a excessiva prosperidade conduz frequentemente a grandes desgraças, e foi isso o que me sucedeu. Consegui enormes lucros no ano seguinte com a plantação. Recolhi cinquenta grandes rolos de tabaco, sem falar no que me servia para a troca com os meus vizinhos das coisas necessárias à vida.





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