Robinson Crusoe - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 75 / 241

1 de Maio. - Observando a praia pela manhã, vi na baixa-mar uma coisa bastante grande que parecia um tonel. Ao aproximar-me, verifiquei tratar-se de um pequeno barril e de alguns restos do buque, que haviam sido arremessados para a costa pelo último furacão. E dirigindo a vista para o casco da malograda embarcação, pareceu-me estar mais fora de água do que nos dias anteriores. Examinei primeiro o barril, e vi que continha pólvora mas tão molhada que formava uma massa compacta e dura como uma pedra. Mesmo assim, reboleio-o para bastante longe da margem, e depois adiantei-me pela ribeira para observar melhor o casco.

Quando cheguei perto dele, vi que tinha mudado completamente de posição. O castelo de proa, antes enterrado na areia, erguera-se mais de seis pés; a popa, que se dividira em várias partes e se separara do buque devido à força do mar, pouco depois da minha primeira visita, estava inclinada sobre o costado, e a areia tinha-se amontoado em tão grande altura naquele lado da popa que, enquanto a baixa-mar durasse, podia chegar-se a pé aonde antes só se chegava nadando um quarto de milha. Aquela mudança começou por surpreender-me mas logo reflecti que devia ter sido causada pelo terramoto. Com a violência das sacudidelas, o buque havia-se desfeito e desunido ainda mais do que estava; e assim, todos os dias, era arremessada para a praia uma quantidade de coisas pelo vento e pelas ondas.

Isto fez-me esquecer inteiramente o projecto de mudar de casa; o meu objectivo principal naquele dia foi arranjar maneira de me introduzir no casco do buque; mas vi que isso era impraticável, pois o interior estava cheio de areia até às bordas. Mesmo assim, como a experiência me ensinara a não desesperar de nada, resolvi arrancar aos bocados tudo o que pude do barco, sabendo que cada objecto seria para mim de muita utilidade.

3 de Maio. - Serrei um travessão que servia, se não me engano, para ligar a parte superior da popa, e depois tirei toda a areia que pude para descobrir a parte mais elevada; mas a maré forçou-me a suspender aquele trabalho.





Os capítulos deste livro